A obesidade se caracteriza pelo acúmulo de gordura corporal e está associada a ocorrência de várias outras doenças e aumento da mortalidade. Trata-se de uma doença crônica com tendência a piorar ao longo dos anos se não for tratada.
O obeso tem risco maior de desenvolver problemas como hipertensão, doenças cardiovasculares como infarto, angina e derrame, diabetes tipo 2, doenças nas articulações como artrose, pedra na vesícula e alguns tipos de câncer.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. No Brasil ela vem crescendo de forma significativa. Pesquisas recentes mostram que mais de 50% da população adulta está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso ou obesidade. Entre crianças, este número está em torno de 15%.
Causas
A causa da obesidade na grande maioria dos casos se deve a predisposição genética associada a maus hábitos alimentares e sedentarismo.
Algumas disfunções endócrinas também podem estar associadas e por isso é necessária avaliação pelo endocrinologista para diagnóstico e tratamento corretos.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito com exames mais complexos como a densitometria, bioimpedância ou outros, mas para avaliação geral da população usa-se o cálculo do IMC (índice de massa corporal).
IMC é calculado dividindo-se o peso do indivíduo pela sua estatura ao quadrado:
Os resultados deste cálculo podem ser os seguintes:
- IMC menor que 18,5: isso pode ser apenas uma característica pessoal normal, porém recomenda-se fazer uma avaliação médica para afastar a possibilidade de desnutrição.
- IMC entre 18,5 e 24,9: parabéns! É muito provável que você esteja com peso normal, sem excesso de gordura no corpo. Tenha um estilo de vida saudável e ativo para se manter desta forma.
- IMC entre 25 a 29,9: aqui já se inicia o sobrepeso. Ainda não há obesidade, mas nesta faixa de peso já existe mais chance de se apresentar doenças associadas como diabetes e hipertensão. Invista nas mudanças de estilo de vida, com alimentação saudável, normalização do peso e aumento da atividade física.
- IMC entre 30 a 34,9: obesidade grau I. Mesmo com exames complementares normais já há um risco elevado de se apresentar complicações. Procure a ajuda de um profissional para ajudar em seu tratamento.
- IMC entre 35 a 39,9: obesidade grau II com risco mais elevado ainda para ocorrência das doenças associadas. Procure a ajuda de um profissional para auxiliar no seu tratamento.
- IMC maior que 40: obesidade grau III, com risco muito mais elevado ainda para doenças associadas. Procure a ajuda de um profissional para auxiliar no seu tratamento.
Tratamento
O dia 11 de outubro é o dia mundial da obesidade e a Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) publicou o manifesto “Obesidade: eu trato com respeito” (manifesto ABESO completo: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/105/5955b47863541.pdf).
Tratar com respeito é saber que se trata de uma doença multifatorial e não reforçar a ideia errada de que seria uma escolha de quem tem.
É respeitar a ciência e suas descobertas, e apoiar estudos na área. É reconhecer a necessidade do acesso ao tratamento completo, que pode, sim, incluir medicamentos, como em qualquer doença crônica. É considerar a cirurgia bariátrica como parte do tratamento se for indicada.
Neste tratamento as mudanças de estilo de vida são essenciais.
É necessário que se faça uma dieta saudável que leve a uma restrição da ingestão de calorias associada a aumento da atividade física, para que ocorra um déficit calórico.
Independente do tratamento proposto, se você não estiver disposto a realizar estas mudanças é pouco provável que tenha sucesso.
Alguns pacientes precisam de medicações para o controle do apetite e redução do peso, e os medicamentos aprovados são seguros se bem indicados. Não pode haver preconceito em usá-los, desde que com o acompanhamento de seu médico, e algumas pessoas podem precisar destes medicamentos em longo prazo, já que a obesidade é uma doença crônica.
A cirurgia bariátrica é também um tratamento bem estabelecido e recomendado para casos mais graves ou associados a outras doenças que podem ser agravadas pelo excesso de peso que não conseguiram emagrecer com os tratamentos clínicos. Existem critérios para sua recomendação e alguns pacientes podem se beneficiar muito deste tratamento.
Pense sempre em perda de peso em longo prazo. Dietas muito restritivas ou exóticas em geral são abandonadas rapidamente.
Não existe uma melhor dieta para todo mundo: a melhor dieta é aquela a qual você é aderente por muito tempo, desde que saudável.
E existem várias estratégias alimentares que são saudáveis, mas com grande variação no conteúdo dos nutrientes: converse com seu médico e com seu nutricionista e veja o dá certo para você.
Aqui vão algumas dicas sobre alimentação e emagrecimento:
- Para emagrecer é necessário que se consiga manter um déficit calórico. Não há um alimento específico ou remédio milagroso que fará você emagrecer, queimar gordura ou acelerar seu metabolismo de forma significativa.
- A distribuição de macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) pode variar muito no contexto de uma dieta saudável, porém a qualidade dos alimentos é essencial. O ideal é que a dieta seja o mais saudável possível, mas o mais próximo dentro das preferências alimentares de cada pessoa para que seja mantida em longo prazo.
Sobre os carboidratos:
- O estudo Pure, publicado na revista The Lancet em agosto de 2018, avaliou a incidência da doença cardiovascular e a mortalidade da população estudada em relação ao consumo de carboidratos e concluiu que as dietas muito pobres e as muito ricas em carboidratos foram piores para saúde. Porém a ingestão de outros nutrientes como as proteínas de alto valor biológico na quantidade adequada e a troca dos carboidratos, principalmente os refinados, pelas gorduras saudáveis também foram muito importantes para a redução da mortalidade e melhora da saúde cardiovascular. O recado que deve ficar é esqueça extremismos e dê valor a qualidade da sua alimentação.
- Deve se preferir a ingestão de frutas e vegetais variados, carboidratos e cereais integrais com alto conteúdo de fibras, com meta de consumo de 25 a 30 g de fibra diariamente, vindas da alimentação.
- Evite as farinhas brancas e os cereais refinados.
- Limite a adição de açúcar às preparações e evite ao máximo o consumo de bebidas com adição de açúcar (refrigerantes, sucos de pacote, sucos de caixinha).
Sobre as proteínas:
- Escolha fontes de proteína animal que tenham pouca gordura ou proteínas vegetais. Prefira carnes magras, peixes, frango sem a pele, ovos, feijões e ervilhas, derivados desnatados do leite e produtos de soja.
Sobre as gorduras:
- Não há um consenso na literatura sobre a quantidade ideal de gorduras que deve ser consumida pelo paciente com diabetes.
- De forma geral recomenda-se redução do consumo de gordura trans e saturadas.
- Prefira alimentos ricos em gorduras monossaturadas ou poli-insaturadas, aumente o consumo de peixes ricos em ômega 3, castanhas, abacate e óleos vegetais como o azeite e o óleo de girassol.
- Cuidado com excessos: as gorduras, mesmo as saudáveis, tem alto valor calórico e podem levar seu consumo em quantidades exageradas pode levar a ganho de peso.
Suplementos alimentares:
- Suplementos alimentares devem ser consumidos por quem não consegue ingerir da dieta habitual todos os nutrientes necessários para manter seu metabolismo.
- As pessoas que necessitam de suplementos são mais frequentemente os atletas com níveis elevados de atividades físicas e com grande demanda metabólica, que não conseguem atingir as metas de suas recomendações específicas de calorias ou algum macro ou micronutriente pela alimentação. Outros exemplos são idosos com dificuldades alimentares.
- Mas de forma geral a maior parte da população não precisa deles e, além disso, não há emagrecimento associado a seu uso.
Suplementos vitamínicos:
- O ideal é que as vitaminas sejam ingeridas nas quantidades recomendadas através dos alimentos e não de suplementos.
- O uso de suplementos de vitaminas não é recomendado de forma geral, então converse com seu médico e veja se realmente são necessários para seu caso.
Alguns mitos que quero destacar:
- Glúten só deve ser retirado de forma obrigatória para pacientes portadores de doença celíaca. Algumas pessoas tem sensibilidade aumentada ao glúten (que não é a doença celíaca) e apresentam sintomas como gases e desconforto gastrintestinal que podem melhorar com a redução da sua ingestão. Entretanto a ingestão do glúten não engorda por si de uma forma maior do que outros alimentos. O que engorda são as calorias em excesso ingeridas.
- Óleo de coco não apenas não emagrece como também faz mal se ingerido em excesso (claro que não há problemas se você usá-lo para preparar um prato que fica melhor com ele, eventualmente).
- Leite faz bem!!! As melhores fontes de cálcio da dieta são os derivados do leite. Se você tem intolerância a lactose use os derivados sem lactose (existem produtos muito gostosos e fáceis de serem encontrados). A alergia verdadeira ao leite é muito rara. Os demais mamíferos não tomam leite pelo mesmo motivo porque não tomam suco de caixinha, cerveja e água mineral em garrafa. E também não sabem ordenhar.
- Água com limão também não emagrece.
- Não é obrigatório comer de 3/3 horas nem fazer jejum intermitente. Estas são estratégias que podem funcionar para algumas pessoas que se sentem confortáveis com elas. Se você conseguir fazer uma restrição calórica adequada vai conseguir emagrecer comendo nos seus horários preferidos.
Procure um endocrinologista titulado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia para orientar seu tratamento e fuja de promessas milagrosas sobre medicamentos e dietas da moda feitas por profissionais desqualificados.